O futebol na Africa

By | March 26, 2016

No livro African Soccerscapes, Peter Alegi conta a historia do futebol na África. Convenientemente, foi publicado justamente antes da Copa Mundial África do Sul 2010. Alegi relata como o futebol nesse continente tem funcionado como ferramenta para o imperialismo, mas a mesma vez tem sido um veículo de resistência contra o colonialismo. O desenvolvimento de identidades nacionais através do futebol e a influencia do capitalismo no jogo também são temas principais em African Soccerscapes. O futebol chegou na África durante as ultimas décadas do século XIX, e foi introduzido pelos ingleses. “Railway towns became important nodes of cultural transmission and exchange where football featured prominently.” (Alegi, p.6) Da mesma maneira, não era coincidência que o futebol era jogado nas cidades do porto, já que eram o primeiro ponto de contato para importações europeias. Apesar disso, os Africanos apropriaram o esporte dos colonizadores europeus e “transformed it into a professional industry shaped by transnational capital and mass media.” (Alegi, p. 32) O futebol foi instrumental na educação africana e foi utilizado como método de colonização, já que os europeus achavam que através do esporte, “boys acquire virtues which no books can give them, not merely daring and endurance, but, betterstill, temper, self-restraint, fairness, honor, unenvious approbation of another’s success, and all that ‘give-and-take’ of life…” (Alegi, p. 21)

A “africanização” do futebol aconteceu entre 1920 e 1940. Os clubes locais começaram a expressar oposição ao poder e autoridade colonial. Na África colonial, os equipes funcionavam como “mutual-aid societies.” Logo depois, a militância anticolonial começou a se manifestar anos 40 e 50. A relação entre o futebol e a politica começou a se fortalecer quando as cidades cresceram, assim como o acesso a “Western education” e a mídia. Os estados independentes forjaram um sentimento de nação e fomentaram o pan-africanismo. A popularidade do futebol aumentou consideravelmente e o futebol africano foi transformado por inovações e um novo estilo de jogar que incluía mais improvisação e liberdade no campo. Rituais de musica e dança permearam os fanáticos e jogadores. E assim os africanos foram apropriando o jogo e criando uma espécie de futebol diferente a europeia.

Em 1957, a Federação de Futebol Africana foi criada, o qual foi crucial para que “an imagined community of millions seems more real as a team of 11 named people.” (Alegi, p. 55) Os 11 jogadores no campo são uma representacao da nacao imaginada. Similarmente, o governo em si utilizava o futebol como um símbolo da nação. “Government ownership of stadiums directly linked them to nation-builidng projects.”(Alegi, p. 55) Eduardo Galeano também escreveu sobre esse tema; dentro do campo, durante um jogo, o futebol pertence a todos. A presença e participação do espectador no jogo e muito importante para o time, e para motivar os jogadores. O espectador e o 12o jogador.

Historicamente, o futebol africano tem sido caracterizado pelo nível baixo já que desde os 1930s os melhores jogadores têm migrado para Europa. Achei muito interessante a analise do Alegi enquanto a perigosa capacidade que o futebol tem para se tornar numa instituição de “modern-day slave trade”. David Goldblatt resumiu esse dilema perfeitamente. Ele disse que o futebol “is a social-democratic game in a neo-liberal world.” (Goldblatt) Para aliviar esse problema, se estabeleceu limites de idade para transferências internacionais. Apesar dessa medida tomada pela confederação, a privatização do futebol – incluindo a comercialização e globalização através da cobertura televisiva em massa – fez que os espectadores virassem consumidores de importações europeias. Depois de ler esse livro, me dei conta que existe uma contradição no mundo do futebol. Para os países africanos, “their economic and political dependence on industrialized nations is both their best hope for the future and a leading cause of underdevelopment.” (Alegi, p. 111)

Hoje em dia, países africanos e latino-americanos utilizam o futebol como fonte de orgulho nacional para os cidadãos. Para África do Sul, a Copa Mundial 2010 foi um megaevento que ajudou catapultar e solidificar a cidadania global do continente, assim como também acelerar o crescimento econômico.

 

 

 

 

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